A guerra na Ucrânia- II

A nível macroeconómico, e fruto da guerra e sanções económicas à Rússia, o crescimento da economia mundial deve ser inferior em 1 ponto percentual; e, a inflação, 2,5 pontos percentuais acima do cenário de Dezembro da OCDE.

Essa projeção estimava um crescimento económico global de 4,5% em 2022 e 3,2% em 2023; e, em face do contexto, o PIB mundial deve rondar os 3,5% este ano. Enquanto que, a inflação pode atingir 6,75% face aos 4,25% em 2022 e 3% em 2023 respetivamente; contudo, o impacto difere consoante as regiões do globo. Apesar da questão macroeconómica, é vital entender os impactos em alguns dos  commodities mais representativos.

O preço do trigo subiu 50%. A Ucrânia e a Rússia são conhecidas como “o celeiro”, pois representam 30% das commodities alimentares, como o trigo ou o milho. A Ucrânia de per si produz 16% e 12% do trigo e do milho mundial respetivamente; todavia, tal não impedirá um incremento nos preços médios da alimentação. Até porque a Argentina, um dos líderes mundiais de soja, decidiu colocar em pausa as suas exportações; contudo, é importante não ignorar que a tendência havia se iniciado antes do período de guerra.

A Ucrânia é igualmente um dos três principais exportadores de batatas, o que em conjunto com milho e trigo são os ingredientes básicos de alimentos processados. É ainda de relevar que: i) a Ucrânia é um dos líderes na produção de alimentos biológicos devido à maior concentração de terras aráveis do mundo; ii) a perda de culturas e incapacidade de laborar os campos provoca uma diminuição das reservas alimentares; e, iii) os monopólios russos de distribuição na Ucrânia centram-se na categoria de bens de consumo rápido. Isto significa que a Rússia irá explorar tal vantagem económica em resposta às sanções impostas pela comunidade internacional.

E, convém não esquecer que o processo de reconstrução das infraestruturas ucranianas, a realocação dos migrantes e, acima de tudo o retomar da vida será um processo moroso; ao invés da realidade russa, pois as sanções económicas têm um custo de recuperação bem menor. Logo, é expetável que os produtos agrícolas se tornem mais escassos e inflacionados.

Este cenário não coloca em causa, pelo menos no imediato, a segurança alimentar da União Europeia (UE), pois esta é exportadora líquida de cereais; todavia, a médio prazo, carece de um projeto agrícola sustentável e resiliente (ver documento do “Prado ao Prato e Biodiversidade”) porque: i) o aumento dos custos na cadeia de abastecimento é e será real; ii) os preços dos fertilizantes e rações causará impacto adicional; assim como, iii) os preços da energia fruto da dependência energética da UE (ver publicação seguinte).