Em termos de metais, a Ucrânia é um produtor considerável de titânio, manganês e minério de ferro no contexto internacional. Tais commodities são componentes chave na produção de aço de baixo custo e para fins especializados, como por exemplo a indústria dos moldes. Com a pressão nos pontos de exportação pela Rússia, por exemplo Odessa (acesso ao Mar Negro) e, a destruição acentuada das estruturas produtivas; a falta de matéria-prima e o seu incremento de preço é uma realidade com consequências a curto e médio prazo.
Em termos energéticos ambos os países têm uma importância estratégica para a União Europeia (UE). Um estudo recente da Hermes, data de 28 Março, ilustra que a fatura energética das famílias europeias deve incrementar entre 20 a 30 mil milhões de euros. Os pressupostos desta previsão são: i) os preços atuais do petróleo e do gás; e, ii) a Rússia interromper as exportações de petróleo e gás como resposta às sanções internacionais. Esta realidade resume a sua representação de mais de 10% à escala global no que concerne ao petróleo e gás.
Com o cenário atual ou similar, as atuais projeções denotam uma continuidade no intervalo de preços entre os 100-120 dólares/barril; enquanto que, o intervalo do gás natural ronda os 130-140 euros/MWh. Este choque, e considerando uma diminuição da importância relativa da energia, não deixa de traduzir um peso extra às empresas; pois, convém não ignorar o comportamento recente mas duradouro dos preços das matérias-primas.
Até porque países como a Alemanha, Polónia e até a França são extremamente dependentes do gás natural russo. Daí o acordo estratégico fomentado por Angela Merkel para a construção do Nord Stream 2, réplica do anterior, e que visava duplicar a capacidade de fornecimento de gás à Alemanha. O objetivo era o efeito de substituição no período de transição energética da Alemanha, ie., em face do encerramento das centrais nucleares e de carvão. Putin, enquanto estratega, explora essa oportunidade: i) cria dinheiro suplementar nos cofres russos; ii) diminui o rendimento da Ucrânia e Polónia, pois ao contrário do antecessor o Nord Stream 1 não utiliza a geografia destes países; e, iii) torna a União Europeia ainda mais dependente do projeto e, por inerência da Rússia. Em face do cenário, o chanceler alemão Olaf Scholz decidiu adiar a entrada em funcionamento do gasoduto por tempo indeterminado.
Por último, existe um efeito pernicioso no mundo tecnológico, pois mais de 100 empresas multinacionais têm subsidiárias na Ucrânia e ainda mais na Rússia. Este plano de relocalização dos recursos humanos e infraestrutura tem um impacto considerável nas operações tecnológicas e, quaisquer futuros planos de expansão impõem uma reavaliação.